Por que as pessoas sentem ciúmes?


Você conhece alguém que sente ciúmes obsessivo por seu parceiro no relacionamento amoroso? Sabe aquela pessoa que exige a senha do celular, que vai atrás quando o parceiro sai de casa, que não permite converse com outras pessoas na rua, que fica observando toda a movimentação do outro nas redes sociais e “ai” do parceiro se ele curtir a foto de alguém “suspeito”?

O ciúmes é um sentimento caracterizado pela sensação que o individuo tem de perder seu parceiro, algo, ou alguém que ama muito para outra pessoa ou coisa. Um pouco de ciúmes  nas relações pode ser considerado normal e tem haver com uma demonstração de apreço pela pessoa em questão. Em um relacionamento amoroso o ciúme exagerado normalmente é demonstrado através da expressão de falta de confiança no outro. Algumas pessoas chegam ao extremo em seus comportamentos movidas pelo ciúme que acaba resultando em agressões físicas e morais muitas vezes irreversíveis em todos os envolvidos na questão.

O plano de fundo para o ciúmes normalmente está em alguma carência afetiva na infância ou em algo excluído no sistema familiar. Muitas vezes a pessoa espera do parceiro aquilo que acredita que faltou do pai, da mãe ou de alguém importante, mesmo sem ter consciência disto, quer suprir essa carência que pode vir pela perca precoce de alguém, por separações forçadas, pela falta de atenção na infância etc. e projeta no parceiro a responsabilidade por essa demanda. Aqui é importante ressaltar que em muitos casos a expressão de falta de confiança é na verdade o que chamamos de deslocamento, ou seja, talvez os pais ou avós eram carentes e por lealdade familiar ou amor o indivíduo quer suprir essa carência para o sistema. Ainda temos o duplo deslocamento que é tão inconsciente quando o deslocamento, neste caso um sucessor projeta em seu parceiro os sentimentos mal resolvidos de um antecessor, mesmo que o parceiro não tenha nada ver com isso. Para ilustrar o duplo deslocamento imagine que sua avó fora traída pelo seu avô, e que esta sempre lhe derramou muito amor e nunca pode expressar a raiva e a revolta causada pela traição, então neste caso se você não conhecer e não reconhecer alguns princípios básicos das relações familiares, pode ser que você projete a dor da sua avó em seu parceiro. Falaremos mais sobre o duplo descolamento em um próximo artigo.

Em geral quando alguém sente ciúmes do parceiro com todas as pessoas, incluindo amigos e familiares, podemos imaginar que o plano de fundo seja uma carência afetiva precedente que o ciúmes evidencia que precisa ser investigada e resolvida. Agora, quando o ciúmes é direcionado ao medo de traição sexual do parceiro com outra pessoa isso pode representar ser uma carência e/ou uma exclusão no sistema familiar. Para ilustrar a exclusão: Imagine que uma mulher que está em uma relação amorosa viu em sua infância ou adolescência seu pai trair sua mãe, e que por algum motivo não conseguiu deixar isto entre o pais e acabou julgando, culpando, tomando para si a dor, excluindo o pai, desejando que o destino e as escolhas dos pais tivesses sido diferentes. Então neste caso essa mulher excluiu o pai. Entenda por excluir a ação de julgar, ter dó ou querer que o destino de alguém tivesse sido diferente do que foi ou é.

Quando por algum motivo excluímos nossos pais, nos desconectamos da força nos leva a uma vida plena e a vida fica “amarrada” em alguns setores, então de forma inconsciente buscamos nos completar do que nos falta no parceiro. E no exemplo acima, o que falta para essa pessoa se reconectar com os pais e com isto ter a força que leva a vida plena? R: Justamente uma traição. E é por isso que essa mulher do exemplo busca a traição por parte de seu cônjuge o tempo todo, pois assim ela dá lugar aquilo que faltou aceitar nos pais e fica completa. Aqui podemos ousar afirmar que em seu íntimo, ela deseja ser traída. Afinal ela busca uma parte de si, do seu sistema familiar, que está excluída.

 Perceba que pessoas extremamente ciumentas, buscam a traição em todos os lugares, ou seja, em seu íntimo elas querem encontrar. Não obstante, se você buscar em sua memória pessoas que eram ciumentas, que foram traídas e que te contaram, ao relatarem o ocorrido  usam as seguintes frases: “ eu tinha certeza”, “estava dentro de mim eu sentia o tempo todo”, “ há muito tempo eu procurava isto”.  E é isto, estava dentro dela, do seu sistema familiar, ela procurava pois estava excluído. Um dos princípios básicos da vida é o pertencimento, em um sistema todos pertencem como são, quando excluímos/julgamos alguém,  excluímos parte de nós mesmos, e então procuramos nas pessoas e nos fatos o que nos falta, somente assim ficamos completos e forte para uma vida plena. Neste caso o parceiro que não trai vê sua vida virar um inferno. Isso é tão real que muitas vezes quando a traição se concretiza o casal volta a se relacionar e o ciúmes algumas vezes acaba, pois, finalmente um parceiro mostrou para o outro o que lhe faltava.

Em geral aquilo que não aceitamos em nossos pais, de uma maneira ou de outra acaba se repetindo em nossos destinos. E no exemplo acima, se a pessoa não toma consciência de que o ciúmes é algo sistêmico e que ela precisa deixar o passado familiar em paz, sempre vai buscar a traição, até encontrar. E se encontrar e não trabalhar isto de forma construtiva, a sombra do ciúmes vai persegui-la nesta e nas próximas relações, afinal, o que o ciúmes tentou mostrar ainda não foi incluído.

Com isto não que dizer que a traição ou o ciúmes é certo ou errado, que um é melhor ou outro é pior. Quero demonstrar que por trás dos sentimentos e destinos existe um amor profundo que quer completar, ensinar ou equilibrar algo. Quero lembrar que o julgamento está a substituir a auto reponsabilidade. Conhecer e reconhecer as leis que regem este amor é o ponto de partida para sairmos da posição de vítima e nos tomarmos as rédeas de nossas vidas.